MEIO DO LIVRO RIACHO DAS QUENGAS

METADE DO LIVRO RIACHO DAS QUENGAS

Riacho das quengas – Joilson Assis 69

Filme de Verônica aquenga do nordeste


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Pra mim. Ele tinha muitas namoradas e de vez em quando uma mulher vem aqui querendo que ele assuma filhos e virgindades. Mas meu filho não tem nada com estas quengas não viu. Seu José quem é que prova que foi o meu filho que fez isto com sua filha?
Isto, ela já era mulher há muito tempo as lavadeiras sabem disto.
- Não seu Antonio, eu era virgem e seu filho prometeu casar comigo, eu juro!
- Todas juram minha filha. Espere ai que vou chamar uma pessoa.
Ela chamou uma lavadeira que pra minha surpresa era Mariquinha que disse que eu que andava atrás do rapaz e me jogava pra cima dele constantemente. Tavares não queria mais eu insistia muito, até o incomodava.
- Viu se Zé que a sua filha não é tão inocente assim! Ela era virgem como minha vó era.
- Me respeite viu, fale direita se não vamos nos “imendar” viu.
- Irado com a moral ferida meu pai voltou para casa comigo e me mandou servir o ultimo almoço em sua casa. E enquanto eu comia sem muito gosto meu pai preparava um trabuco e colocava na cin-






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Tura o que causou tanto medo. Aquele homem que tanto amava e chamava de pai estava transformado, era hostil e bruto e me tratava como jumento qualquer. O outro homem que tanto amei desapareceu, me abandonou e me fez de mentirosa. Tudo aquilo parecia um pesadelo e eu rezava para acordar deste horrendo sonho. Não podia ser verdade tudo aquilo, a qualquer momento eu iria despertar em cima d e minha cama sentindo o cheirinho do café de dona Maria. Para minha infelicidade tudo aquilo que estava acontecendo era pura realidade e eu andava como um zumbi, um ser sem alma nem destino certo.
Depois do almoço meu pai novamente colocou as minhas coisas sobre o jumento e partimos deixando a minha mãe a chorar muito. Para onde iríamos? Para onde meu pai iria me levar agora? Fomos em direção do açude de Bodocongó e do lado oeste para sul paramos em uma casa de quenga, a casa de dona Yayá, quenga chefe de um grande bordel no local.
- Pai, não pai, isto não! Por favor não.
- Você se perdeu minha filha, siga seu destino.
- Ele vai voltar meu pai e me levará. Ele vai voltar, eu tenho certeza pai, por favor...









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- Se ele voltar que venha te buscar aqui.
Então chorei muito e as lagrimas não me deixavam ver direito as coisas. Meu mundo estava desabando e eu queria morrer.
- Dona Yaýa, eu trouxe esta menina aqui que se perdeu, virou quenga. Vou deixar aqui pra senhora tomar conta dela. Ta certo?
- Seu Zé a casa ta cheia e eu não tenho onde colocar ela não.
- “arranje”” um lugar pra esta cabrita dona Yaýa.
- Ta certo seu Zé, mas ela é tão novinha!
- Chega de conversa dona Yaýa. A senhora vai ficar ou não?
- Ta certo, venha cá minha filha.
Aqueles dois pareciam tramar o meu destino, o meu enterro para a sociedade dos vivos. Enquanto as quengas retiravam minhas malas eu olhava para o meu pai que evitava olhar para mim. Era um conjunto de barracos de taipas, barro e madeira com muito lixo ao lado e vários cachorros magros a “latirem”. Naquelas não havia jardins com flores e sempre existiam um ou dois bêbados caídos ao arredor. Depois que as quengas retiraram minhas coisas do jumento meu pai pegou o mesmo e começou a ir embora. Eu corri chorando atrás dele o






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Chamando.
- Pai, pai, pai não me deixe aqui! Por favor, pai meu pai, por favor.
Mas ele nada me dizia. Não me respondia nada. Me agarrei com a perna dele enquanto dona Yaýa me tentava segurar e consolar.
- Papai eu sou sua filha mais velha, por favor. Não me deixe aqui meu painha, meu painha, painha...
Cai no chão e no chão olhava ele partir montado naquele jumento levando também o meu. Em prantos de morte eu desesperada para ouvir dele qualquer coisa disse:
- Benção meu pai, sua benção pelo AMOR DE DEUS.
- Deus te der vergonha em toda sua vida Ana Carolina!
Em prantos permaneci no chão até que vieram três ou quatro quengas em prantos também e me levaram nos braços chamando pelo meu pai. Elas choravam muito, pareciam reviveram os dias que chegaram naquele lugar tão triste. Eu queria morrer, desaparecer e nada me importava mais. Eu só chamava pelo meu pai e por minha mãe todas as horas e as quengas tentavam me consolar.








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CAPITULO 1V








Existem alguns pesadelos que são vividos acordados que desejaríamos de todo o coração que fosse apenas um mau estar da noite. No dia que cheguei na casa das quengas chorei muito, muito mesmo e por alguns instantes fui acompanhada por outras que me assistiam que nem mesmo conhecia a minha história. Dona Yaýa foi muito paciente comigo e durante uma semana ela não tratou nada comigo apenas perguntava se eu estava bem. Tudo era úmido um leve cheirinho de fumaça das lenhas dos fogões, os lençóis tinha um leve cheiro de cigarro. Era muito diferente do ambiente que vivi toda a minha vida até os quinze anos. A noite havia música, danças e muitas gargalhadas como se toda noite houvesse festa. O quarto onde eu estava ficava ligado a vários outros quartinhos que eram utilizados pelos casais em seus amores não me deixando dormir com tanto “ais e uis” que se faziam toda noite pelas meninas e pelos homens que estavam com elas. Era algo que misturava excitação e medo, pois era um mundo











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Que eu não conhecia. Realmente durando a noite era difícil dormir com aquela movimentação toda, música e sons de prazer bem ao lado da minha cama. O reservatório de lagrimas secaram, mas as cipoadas ainda doíam um pouco mas a minha mente ainda estava conflitante pensando para onde eu iria fugir. Mas para onde eu iria? Todos notaram que meu pai me trouxe para o meio das quengas para proteger minhas irmãs de saber o que soube, nisto quem iria me aceitar?
- Tavares eu te amei tanto Cadê você!?
- Eu confiei tanto em tuas palavras e me entreguei em tuas mãos a minha vida e tu jogastes ao chão e pisastes em cima dela.
Pouco a pouco eu criava certa raiva do homem como se esta espécie fosse má. Em minha cama de quenga eu sonhava ainda ser uma senhora de honra e teu um homem só pra mim. Algumas vezes eu pensava que Tavares iria vim me tirar deste inferno em outras fugir sem destino, mas eu era tão nova para sair do destino que meu amado pai me colocou. A sua moral era supostamente maior que a sua filha que ele dizia que tanto amava. Os dois homens que tanto amei me jogaram na vida que dificilmente eu sairia. Moral sem misericórdia se torna hipocrisia pura, pois meu








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Pai se sentia atingido por um erro que fiz com um namorado que me enganou, mas não sentia a sua moral atingida quando todos comentavam as suas espadinhas com as quengas que tinha em vários lugares nem com as noitadas nos bordeis da região. Eu não compreendia isto; será que era porque idade não permitia? A contradição parecia habitar no coração do homem, o ser humano é um ser extremamente contraditório.
Durante o dia eu ficava junto as meninas, mas um pouco estranha a turma de mulheres que estavam ali. Elas cozinhavam muito bem e apesar de estar muito triste eu estava em conflito e não me enturmava, porém tinha uma fome muito grande. A noite eu me trancava no quarto, mas não conseguia dormir com tantos “ais e uis, uhhh, ahhh” que haviam e que pouco a pouco me excitavam também. Como os casebres havia buracos pequenininhos onde eu passei a observar as quengas seus trabalhos e o que via era uma tremenda loucura sexual. Eu nunca vi tanto sexo e em uma noite de sábado uma quenga chegava a nove, dez homem que “botavam pra quebrar” naqueles corpos na maioria jovens. Pelos buracos eu observava tudo e via os nobres que viviam em seus palanques se renderem a duas penas aber-









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Tas. Era a incrível contradição da sociedade da época. Ver o prazer dos outros excita mais que ter pessoalmente e prazer em uma semana eu já estava ardendo de desejo. Eu estranhei porque minhas regras não vieram e vomitei algumas vezes. Mas eu pensei que era por motivo de tanta excitação não atendida ou o fato que eu estava dormindo muito tarde da noite. Para minha surpresa dona Yaýa disse-me que eu estava “prenha” de “bucho” o que me fez novamente sofrer terrivelmente.
- Carol, você ta de bucho e é um bucho muito forte porque não abortasse mesmo com tanta surra e problemas.
Eu estava de bucho e não sabia o que fazer nem a quem recorrer. Realmente eu estava perdida ao lado da Mata de Dona America Correia e do major Juvino seu esposo. As lagrimas já não caia mais apenas o brilho do meu olhar era fraco como de uma semimorta para a sociedade dos vivos. Uma semana depois da entrega na casa de Dona Yaýa minha mãe me visitou, trouxe-me comida e frutas e chorou ao me ver e principalmente em saber que eu estava de bucho de Tavares.
- Minha filha eu te amo tanto e vou tentar arrumar um lugar para você ir. Você sabe como é o seu pai? Ele tem medo das








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Outras se tornarem assim como tu.
- Eu não morri mãe, eu só perdi a virgindade!
- Você minha filha tem que sustentar o erro que fez. Eu vou tentar conseguir uma casa nos sítios pra você ficar.
- Mãe por amor de Deus me tire deste inferno!
- Aguarde, eu vou tentar tirar você mas até lá obedeça a dona Yaýa. Eu te amo!
Da janela da casa das quengas observei a minha mãe indo embora com seu jeito de andar. Eu sabia que ela estava tentando muito me tirar dali, mas ela temia pelos meus irmãos e irmãs. Se o meu pai fosse embora ela teria muitas dificuldades para criá-los sem um homem. Aquela cabocla iria fazer de tudo para me tirar daquela prisão social, mas mesmo de poucos anos de vida eu sabia que era necessária muita força para isto. Talvez ela não conseguisse, mas eu a amava mesmo assim, ela era uma grande mulher.
Dona Yaýa procurou-me para ter uma conversa amiga.
- Carol, gostamos muito de você e as meninas parecem simpatizar com você. Mas alguns vão reclamar se você não fizer nada. Além








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De lavar pratos e roupas você necessitará de dormir com homens.
- Dona Yaýa estou buchada. Minha mãe vem me buscar e ainda acredito que Tavares venha me buscar justamente com seu filho.
- Mas enquanto isto não acontece você vai precisar trabalhar para não causar em algumas revoltas. Você vai ganhar dinheiro todo dia e eu vou alertar os homens para não te machucarem, pois “tu ta prenha”. Eu vou escolher você para os melhores homens que vierem aqui e bastará um ou dois por noite.
- Ta certo dona Yaýa.
- O seu nome vou omitir, pois se você sair ninguém vai lembrar.
O seu pseudônimo será VERÔNICA a partir de hoje.
Verônica passou a ser o meu nome e a primeira noite que fui para o salão de danças foi muito chocante. Aquela ambiente de pouca luz com aquela vitrola tocando música de “ruedeira” com aqueles homens de bigodes finos e perfumes fortes e olhares cortejantes, pareciam logos olhando para uma coelhinha, carne fresca a vista e de fácil acesso. Novamente me senti em um pesadelo terrível e sem forças para acordar de toda aquela situação.
Meio perdida ando pelo salão batendo nos casais dançantes e sem saber onde e o que fazer, de que forma sentar, em que lugar.
Em minha mente eu gritava! Tavares meu amor cadê você, cadê você meu amor? Meu pai me tire deste inferno meu pai, por favor!
- A jovem quer dançar?
- È... Agora não viu.

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- Dona Yaýa mandou eu convida-lo para dançar.
- Ta certo.
Começamos a dançar lentamente e enquanto aquele homem me levava o meu corpo a minha alma derretia dentro de mim descendo em meus olhos em forma de lagrimas. Abraçado bem juntinho ao meu corpo ainda de criança aquele homem nem mesmo percebia que as minhas lagrimas molhavam seus ombros e costas; mas ninguém percebia aquela angustia ou todos fingiam não ver. A música dizia: “Fingir você não sabe por que a dor que estás sentindo sabe que preferes morrer falaram mal de mim não quiseste acreditar agora pede clemência arrependida queres voltar. Agora é tarde hás de pagar o teu pecado, pois o amor fingido nunca deve ser perdoado.” Ao ouvir este letra eu chorava muito quase em agonia de morte, sem querer acreditar que eu era neste mundo que a poucos anos me recebeu uma QUENGA simplesmente quenga; sem vontade, sem lar, sem dono como um cão sem raça pedindo e sem ter ninguém que o assuma, dê comida e guarida para ele. Ah meu Deus que dor terrível! Quando as esperanças de uma pessoa morrem, toda pessoa morre junto com elas sem misericórdia alguma.
Eu só tinha visto um homem nu em minha frente que era Tavares, mas depois da dança não deu pra fugir e em um quarto pequeno e fedido me entreguei ao prazer com aquele homem que me fez delirar. Até me esqueci naquele momento que estava me tornando uma quenga do nordeste brasileiro. Soube depois que






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A maioria das meninas assistia a cena no quarto ao lado e que havia uma lista de homens importantes para me possuírem. Prefeitos, vereadores, deputados, empresários e homens importantes da cidade souberam que havia uma quenga nova na casa de dona Yaýa. Dois todas as noites me possuíam e eu me sentia exausta e suja muitas vezes. Como diz o ditado o homem se acostuma com o bem e com o mal. Eu tinha uma idéia fixa em minha mente que iria sai Dalí, mas pouco a pouco fui levando para a normalidade todos os fatos que ali aconteciam.
Fiz amizade com as meninas e nos tornamos muito amigas. Existia Judite a mais brava de todas que batia em todos os homens sem distinção bastava insultá-la. Era uma ótima pessoa, amiga e simples, mas os homens que brincavam com ela, não a pagava ou tentava queimá-la com pontas de cigarro, apanhava feio e quem se colocasse no meio apanhava também; a mulher era uma fera. Tinha várias Anas: Ana Carla, Ana Cristina, Ana Paula todas elas tinham cabelos lindos e passavam o dia tratando deles. Tinha uma chamada de Severina e outra que se tornou minha grande amiga chamada de Sara. A mais nova era Nita que tinha apenas treze anos e veio de fora para a cidade com uma caravana que era comum na






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Época. Homens amigos das quengas saiam pelos sertões e traziam meninas para Campina, para fazerem “vida” nos cabarés da cidade. Era uma triste, pois casas de quengas para serem utilizadas como objetos de prazer enriquecendo as cafetinas da época. Muitas fugiam e outras conseguiam maridos e viajavam com eles era o movimento daquele campo de concentração social e moral.
Pouco a pouco passei, a saber, o sonho de cada uma daquelas mulheres: Sara desejava se casar, Ana Paula colocar a própria casa de quenga e Ana Carla de voltar para a família na Bahia com muito dinheiro. O maior sonho delas era realmente conseguir um homem para se casar mesmo que fosse velho. Pouco a pouco percebi que aquelas mulheres eram simplesmente humanas e como qualquer outra AINDA SONHAVA. É verdade que existem aquelas desbocadas que falavam muitos palavrões e demonstravam grande revolta, brigavam com todos, mas eu via que elas eram apenas revoltadas por serem tratadas como lixo humano restritas somente aquelas casas de taipas. A sociedade as tinham colocados no surbiu da vida e atribuído a elas mesmo praticavam. Muitas ainda era índias vindas de lugares afastados de










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Tudo e agora habitavam em outro lugar afastado também de tudo que se chama realização. Entre as quengas havia mulheres abandonadas pelos esposos que viajaram e nunca voltaram e pra elas não morrerem de fome com seus filhos optavam para a prostituição. Virgens perdidas como eram chamadas as mulheres que perdiam suas virgindades e o pai moralista as trazia ou enviavam para as casas das quengas. Mulheres acusadas de adultérios e julgadas pela sociedade acabavam morando no cabaré. Mas havia aquelas mulheres que vinham por vontade própria e se tornavam quengas por muitos motivos: Revolta contra a família, contra o marido etc. outras eram criadas no mundo como “Deus criou batata” jogadas pelas ruas e acabavam no cabaré.
A produção de meninos no Riacho das quengas era grande, pois não existiam meios de evitar filhos eficazes. Existiam alguns chás, mas era garantida. Também era utilizada pucumã (teia de aranha com fuligens de fumaça) para abortar, mas nesta tentativa algumas até morriam. Enquanto o meu “bucho” crescia outras meninas davam a luz ali mesmo através de parteiras que vinham aos barracos da taipa fazerem o parto. Na maioria










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Dos casos estas crianças eram dadas aos ricos da cidade que solicitavam as crianças até na barriga da menina. Outras deixavam nas portas dos ricos e os mesmo criavam aquela criança como se fosse sua. Estes fatos eram comuns em demasia e a produção de meninos eram muito grande.
O clima do local invocava uma Inteligência diferente, um clima de esperteza e clareza havia no meio de nós. Parecia que algumas quengas queriam ser mais moralistas que as mulheres da sociedade. Outras se entregavam a bebidas, principalmente quando ficavam velhas e os clientes as rejeitavam. As vezes encontrávamos quengas caídas e mortas as margens do açude de Bodocongó, elas morriam de tristeza e dadas ao vinho. Pobres e distantes da família, com seus corpos envelhecidos e rejeitados pelos homens elas morriam de tristeza e depois seus corpos morriam de álcool. Aquelas mulheres tão desejadas pelos homens morriam caindo os pedaços de seus corpos por doenças venéreas desconhecidas. Muitas delas morriam muito cedo de infecções desconhecidas e por terem pouca resistência a doenças morriam logo. As mulheres de origem índia que tinham pouca resistência










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Morriam logo. As doenças mais comuns entre as quengas eram uma coceira que às vezes atingia a todas, piolho que eram catados nas calçadas e mortos a unha. A coceira era tratada com banho quente de melão de São Caetano (planta local que serve para coceira).
As brigas eram comuns, homens contra homens disputando quengas, mulheres com homens por não pagarem a noite mulheres vinham buscar os seus maridos estavam em nossos braços e quengas com esposas enciumadas. Existiam tantas brigas que até nos acostumados com elas, até achávamos graça com a baixaria que de vez enquado nos visitava. A briga mais engraçada que presenciei foi a de Judite com dois homens, um irmão do outro que tentaram queimá-la com pontas de cigarro.
Coitados apanharam até umas horas. Judite era uma lutadora “nata” e a sua valentia a fazia enfrentar até a policia quando era chamada. “Eita mulher danada de brava”! A nossa policia era ela, verdadeira e apegada ao que certo ela nunca rejeitou uma boa briga. Ela tinha pernas fortes e braços potentes era uma verdadeira guerreira.











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O tempo passou rápido e eu dei a luz a um menino o qual chamei de Gabriel, o nome de um anjo de Deus. Nasceu lindo e o seu choro me agradava, era como música aos meus ouvidos sofridos. Fiquei com ele mais de seis meses quando me convenci que eu não tinha condições de criá-lo e mais uma vez na vida iria perder mais um homem que eu amava. Algumas memórias nos fazem sofrer muito e a dor parece nunca envelhecer. Fui até uma casa na mata junto ao açude de bodocongó e deixei Gabriel em uma cestinha com roupinhas que eu tinha recebido de dona Yaýa. O menino chorou muito e o meu medo era dos cães da casa fossem soltos e devorassem Gabriel. Então segurei um pedaço de pau e coloquei em meu coração a disposição de correr e atacar os cães se eles fossem solto. Como tive medo daquele momento acontecer, mas repentinamente a porta se abre e uma mulher anuncia...
- Oia muie ! Um menino lindo venha ver! parece um anjo ... presente de Deus !
Naquele momento eu não sabia se chorava ou se sorria, mas em minha face aconteceu os dois ao mesmo tempo. Minha face sorria, mas os meus olhos e coração choravam. As lagrimas caiam sobre os meus seios ainda cheios de leite para Gabriel mamar. Parecia que um pedaço estava sendo arrancada de mim.









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- Será Deus que o Senhor me abandonou? Por que a minha vida é tão triste assim? Meu...
Depois de chorar muito até o soluço surgir sai sem graça e sem alma pela grande floresta que havia na região na época. Sai entre as árvores sem destino querendo morrer desaparecer da terra. Andei pela mata de Dona Merquinha até a mata do Joel que ficava ao norte do açude de bodocongó. Parecia que eu tinha nascido um lixo humano jogado nesta terra para “penar”
- Gabriel Deus te abençoe e te guarde, te torne um grande homem e te livre do terrível destino que sua mãe tem.


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- Será Deus que o Senhor me abandonou? Por que a minha vida é tão triste assim? Meu...
Depois de chorar muito até o soluço surgir sai sem graça e sem alma pela grande floresta que havia na região na época. Sai entre as árvores sem destino querendo morrer desaparecer da terra. Andei pela mata de Dona Merquinha até a mata do Joel que ficava ao norte do açude de bodocongó. Parecia que eu tinha nascido um lixo humano jogado nesta terra para “penar”
- Gabriel Deus te abençoe e te guarde, te torne um grande homem e te livre do terrível destino que sua mãe tem.















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CAPÍTULO V
Quando alguém nos trata como rei existe uma grande possibilidade de sermos reis de verdade e de ter comportamento real. Mas quando alguém ou a maioria das pessoas nos tratam como lixo temos a grande possibilidades de “federmos” como o tal. Era isto que acontecia com algumas destas mulheres que resolviam erradamente assumir uma posição de escória como a sociedade dos importantes queria que elas fossem. Apesar de aceitar a minha posição eu nunca me acostumei em não ter um lar, um homem uma vida de verdade. Eu estava decidida a fazer alguma coisa para mudar de destino. A primeira ação que resolvi fazer foi de aprender a ler e a escrever. Quem sabe se eu não conseguia um emprego digno? Dona Yaýa resolveu-me ensinar, mas se eu dormisse com mais um ou dois homens a mais para aumentar o lucro dela, de imediato aceitei. Comecei a aprender a cartilha do ABC que comprei no centro e até pregados nas paredes havia letras e nomes para que eu decorasse os mesmos, o que eu fazia até com aquele homens em cima de mim. Enquanto eles gemiam eu somava as letras escritas










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As transformando em palavras e em frases. Aprendi a contar dinheiro e a escrever o meu nome. Todos diziam que as letras que eu fazia as pessoas achavam lindas e eu sonhava em um escritório atendendo muitas pessoas da sociedade dos vivos. Eu queria que algo tivesse valor além do que estava entre as minhas pernas quando a menina era nova e bonita ela chegava a trabalhar duas vezes mais que as outras e se ela tornasse a preferência dos homens, ela não parava de atender, até durante o dia vinham fregueses. Foi o que aconteceu comigo, eu era nova, tinha alguma beleza e procurava fazer bem o meu serviço, nisto os clientes vinham todas as horas. No início eu pensava que era algo bom mais só muito depois eu percebi o perigo. Com dois anos eu era o sucesso da casa de dona Yaýa e até Nita ficava para trás apesar de ser mais nova eu agradava os homens e os deixava exaustos de prazer. Já que tinha que fazer as coisas, eu fazia bem feito para ninguém colocar defeito. Depois de dois anos engravidei novamente desta vez não sabia quem era o pai. Mesmo grávida a gente na casa de dona Yaýa não parávamos, pois tínhamos que pagar a estadia. Aprendi a ler e a escrever, faltava só um tempo para que eu deixasse aquela vida.









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Quando é que quenga não pode escolher homem, toda espécie de homem temos que aceitar. Tanto fazia se fosse um doutor, um homem bonito e jovem ou um homem sujo e maltrapilho. O pior deles são aqueles que têm vícios sexuais que na hora da cama querem mais do que é oferecido a eles ou passam a bater na gente para sentir mais prazer. Alguns sentem prazer no carinho outros na dor, estes associam o prazer a dor e são eles que mais nos dão trabalho. Outros pedem para que batermos neles ou o chamemos de infeliz, safado etc. Parece que no sexo os homens e as mulheres deixam transparecerem seus comportamentos mais íntimos, seus medos, suas fobias etc. È na cama que muitos se transformam, machões se aboiolam, os “mulherengos” brocham. A cama e uma mulher bonita sobre ela se torna às vezes um grande consultório para tratamento de vários males psicológicos. Muitos homens de poder recebiam o nosso conselho para seus negócios suas políticas deitados ao nosso lado, rendidos pelo nosso amor. Quando se é quenga tem que ser esperta e um clima de esperteza pairam no ar. Ao contrário do que muitos pensam, os homens procuravam as quengas porque queria trocar idéias com uma represen-







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Te do sexo feminino. Ouvimos muitas histórias de fracassos que eles evitavam contar para suas esposas e nisto ganhávamos fregueses fixos e admiradores secretos. Alguns nem mesmo nos tocavam, apenas conversavam, conversavam, choravam sobre os nossos seios desnudos. Era um consultório sexual! De muitos casos que sabia dois deles me lembro! Um deles era o caso de um homem da alta sociedade, da sociedade dos vivos que era traído por sua esposa descaradamente mas ele não tinha coragem de delatar a situação por causa da família dela e da riqueza que tinha. A mulher dele o dominava, tinha um caso há muitos anos com o caseiro dela e todos os serviçais sabiam, mas nada ele poderia fazer. Ele gostava dela e tinha medo de perdê-la juntamente com a riqueza que vinha da família dela tudo que tinha. Era uma situação muito triste que o fazia chorar várias vezes em meu ombro, o outro caso era de um homem que era Homossexual e que sofria com isto, ele queria que eu o fizesse homem. Eu batia a mando dele em seu corpo falava palavras de ordem e autoridade como – “Fale direito seu veado. Vire homem seu fresco. Tome jeito seu baitola... Possua-me seu fresco...” Era engraçado demais e eu morria de rir com estas taras loucas.










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O bom destes loucos embutidos era o dinheiro que eles davam a mais e eu guardava o mesmo para um dia que iria precisar. Cheguei a ganhar um conto de reis por cada um destes que eu fazia terapia. Na época as mulheres eram muito presas sexualmente e havia vários casos de mulheres que passavam meses para dormirem com seus esposos os quais vinha para os nossos braços todos os dias. Eu não compreendia como aquelas mulheres que viviam tão bem não conseguiam abrir as pernas para o homem que era seu. Na casa das quengas sabíamos de tudo que acontecia nos bastidores no mundo do poder, da alta sociedade. Com isto uma grande parte das quengas eram mulheres esclarecidas e sabiam falar “mano” a “mano” com os homens de seu mundo tão conturbado.
O problema estava naqueles homens que queria provocar dor na gente enquanto amava. Certo dia um homem com cara de cigano me contratou para o prazer e no ato ele apagou o cigarro em minha perna deixando uma marca em carne viva. Eu reclamei e fui segurada com muita força em um ato quase como um estrupo. Como havia muitos gemidos e sons nos quartos ninguém veio quando alertei o problema. Fui emudecida e apanhei muito enquanto ele obtinha prazer. Tentei de tudo para sair dele, mas ele era mui-










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To forte e só me deixou quando terminou. Ele jogou o dinheiro em cima de mim e saiu e eu fui atrás batendo nele até levar um murro muito forte. Judite saiu ao meu socorro pulou em cima daquele canalha e começou uma luta muito forte. Ana Paula pulou também e repentinamente três ou quatro companheiras fizeram o mesmo. Aquele grandalhão resistiu, mas acabou apanhando de todas nós até que dos quatro surgiram homens e deram a maior surra que já vi o deixando caído ao chão desmaiado. Dizem que a vingança é um prato que se serve frio, mas é gostoso; é e muito. Era a minha primeira marca de cigarro que se somava as cicatrizes que meu pai fizera com o cipó de jucá.
Peguei varias vezes coceira e piolho. Era uma coceira que não acabava mais e tinha uns carocinhos que ao coçarmos se tornava uma feridinha manchando mais ainda a nossa pele. Pouco a pouco as marcas nos denunciariam que éramos quengas onde fossemos. Eu tentava evitar isto com remédios e banhos constantes, afinal, depois de meu filho nascer eu iria procurar outro emprego. No mês de Maior meu filho nasceu, outro homem em minha vida e eu não queria ficar longe dele. Mas a








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Pobreza excessiva é uma maldição muito grande, pois o vivo miserável pode menos que o morto rico. A memória dos barões, poderosos e ricos pode mais que um vivo que não nada tem, é um morto vivo. Eu alimentava o meu filho e chorava por saber que teria que entregá-lo a outros braços que não eram os meus. As lagrimas caiam sobre os meus seios e escorriam até a boca de Miguel como eu o chamava. Era um nome angelical, quem sabe algum anjo o protegesse. Miguel era lindo e tinha um aspecto de caboclo, com cabelos bem fininhos como de índio.
- Meu filho eu te amo, mas a mamãe não vai poder ficar com você. Mamãe é uma quenga e eu não poderei criar você aqui neste ambiente VIU MEU FILHO! O papai mamãe não se lembra quem é, mas eu tenho certeza que ele te ama também, viu!
Então eu chorava amargamente. Parecia que chorar era o meu destino imutável. Eu era apenas uma quenga, o que eu poderia fazer, talvez eu fosse realmente fraca e desprezível como meu pai dizia em seus momentos de raiva, quando praguejava-me sem pena alguma.










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Depois de seis meses eu e Sara fomos a casa dos meus gentis clientes para deixar o meu filho em sua casa. Eu queria que todos eles ficassem próximos a Bodocongo, pois de uma maneira ou de outra eu acompanharia o seu crescimento. Quando colocávamos a criança em sua porta ela chorou e ele abre a porta assustado.
- O que é isto
- Estamos colocando uma criança para o senhor
- Só me faltava esta, duas quengas trazendo um filho de rapariga para eu criar. Saia daqui suas quengas safadas se não eu vou chamar a policia, saia, saia já...
Saímos rapidamente e assustadas com aquele homem que era tão simpático quando estava entre as nossas pernas e agora se mostrava um ímbecil bruto. Na volta encontramos uma família muito rica com aqueles carros que só pessoas muito ricas tinham. Na época só os ricos tinham carros e quem tinha um carro daquele só poderia ser muito rico.
- Sara, olhe só aquele barão. Miguel pode se da bem com aquela família.
- Verônica, eu nunca vi aquela família por aqui não, eles são







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Diferentes, parece ser dos estrangeiros.
- Vamos lá, vamos deixar a criança nos bancos do carro.
- Vamos!
Fomos e colocamos Miguel nos bancos do carro e ficamos olhando de longe. Aquele casal era xíque mesmo, a mulher dele usava até luvas brancas e um belo vestido. Ele encontram a criança no bando do carro e de longe olhei o brilho do olhar daquela mulher ao abraçar meu filho.
- Deus te abençoe Miguel e que esta família te faça muito feliz!
Enquanto aquela mulher rica abraçava a minha criança passamos ao lado dela e ela olha sutilmente para nós como se soubesse que era eu a mãe daquela criança. Então eu ouvi uma frase dela em voz alta como se quisesse que eu escutasse. – Que criança linda, eu vou te fazer muito feliz! Com lagrimas em meus olhos olhei para ela e como se os nossos olhares se combinassem a abençoei. Que triste sina é a da mãe que ver o que saiu de dentro dela nos braços de outra mulher. Mas com ela, ele teria muitas oportunidades na vida.








Riacho das quengas – Joilson Assis 96


O sentimento de incapacidade é igual ao sentimento de morte. É como se estivéssemos mortos e não conseguíssemos mover os objetos do mundo dos vivos. Algumas dores não passam, elas apenas recolhem-se para dentro de nós, para o mais profundo de nossa alma. Ela fica lá dentro e como um urso faminto sai de vez em quando e nos perturba nos devora por dentro. Eu não sabia para onde Miguel tinha ido, mas ele estava mais seguro que nos meus braços e isto era muito, muito triste para mim. A minha incompetência perante a vida me abatia cada vez mais. A dor da perda de mais um homem na minha vida me fazia sofrer e eu pensava comigo que alguma coisa eu tinha que fazer. Eu já sabia ler e escrever fazia conta com facilidade, então bastava eu procurar. Passei a buscar um trabalho no centro de Campina Grande todos os dias. Fazia a vida a noite e durante o dia buscava emprego. Campina Grande era a capital do trabalho e muitas indústrias havia, porém as maiorias dos trabalhos eram para homens. Eram necessárias muitas referências e na maioria dos casos eram dados trabalhos só pra quem era conhecido de alguém poderoso. Como quenga eu não tinha referencial, mas mesmo assim eu tentava buscar um meio de vida.










Riacho das quengas – Joilson Assis 97


Encontrei no centro da cidade de Campina uma fábrica de sacos de vários tipos. Trabalhávamos das 6:30 até as 11:30 das 12:30 as 17:30 e ganhávamos uma ninharia por mês e as vezes atrasava muito. Durante a noite eu servia os homens que buscavam trabalhávamos em conjunto com várias mulheres e homens e tudo ia bem até que alguém descobriu que eu era quenga. Repentinamente os trabalhadores começaram a me evitar e ninguém sentava onde eu sentava e não queria beber no copo d’água que eu bebia. Piadas indiretas começaram a ser ditas constantemente enquanto eu costurava os sacos. Piadas eram até suportáveis, mas quando os homens resolveram passar as mãos em mim começou a humilhação pública aonde todos iam por gestos ou passadas de mãe em mim. Eu tinha que resistir toda aquela humilhação, pois eu queria ser uma mulher da sociedade dos vivos, eu precisava viver.
- Ah, eu dei tanto ontem que nem posso sentar. Há, há, há!
- Eu to com uma coceira dana, “Eita gota” que xanha da mulesta, peguei no vaso.
Eram tantas as piadas e indiretas que eu recebia que as lágrimas desciam silenciosas de meus olhos.









Riacho das quengas – Joilson Assis 98


- Eu, Verônica eu tenho uma espada de dois palmos. Vamos lá.
- Cale a boca rapaz, Verônica já vai dar pra mim. Não é Verônica? Há, há, há!
Eu escutava isto o dia todo, era um apedrejamento constante e às vezes a minha alma sangrava. Com o passar dos dias as “direitinhas” se afastaram de mim e perto de mim só havia homens. Eu tinha que suportar, pois estava decidida a mudar mesmo que o mundo não quisesse. Em meio aos homens tinham chamado Benedito que me “aperriava” muito para que eu desse para ele o que dava na casa das quengas. Ele era insistente e “chato” e sempre colocava os outros contra mim. Mas eu não o queria com aquela cara de “gaiato” que tinha. Com a insistência dele o pior aconteceu, fui chamada no escritório pelo dono chamado Joaquim Almeida.
- Verônica é verdade o que se diz a cerca de você, que você é mulher de vida livre?
- Sim senhor, faço a vida, mas estou aqui trabalhando para sair deste destino terrível.
- É verdade que a senhora está se insinuando para os homens da fábrica?








Riacho das quengas – Joilson Assis 99


- Não senhor!
- Dona Verônica, estou recebendo muitas queixas por parte dos trabalhadores e as mulheres não querem utilizar o banheiro por sua causa.
- Eu não tenho culpa senhor, eu não tenho doenças.
- Eu não posso manter a ordem na fábrica assim dona Verônica. A senhora está despedida, venha daqui a um mês buscar o seu dinheiro.
- Por favor senhor Almeida não faça isto. Por favor, por favor!
- A senhora pode ir embora.
Eu sai e dei de cara com Benedito com aquele sorriso de deboche. Fechei a minha mãe e dei mesmo no olho dele. Nunca dei um murro com tanta força e nunca fiquei tão feliz por ver aquele infeliz cair sobre as máquinas.
Eu tinha a leve impressão que a sociedade não queria que eu deixasse de ser quenga. Continuei indiferente as indiferenças a buscar emprego pela cidade. Todos os dias eu ia buscar um trabalho aonde desconfiava que houvesse um. Eu necessitava deixar de ser algo desprezível ao mundo, eu existia e queria ser alguém nesta terra. Queria dizer para todas as pessoas







Riacho das quengas – Joilson Assis 100


- Eu estou viva, eu sou gente, eu existo.
A vontade era tão grande que eu chorava por qualquer motivo. Tentava buscar em meus clientes algum meio de sair daquela vida, mas nada havia para mudar o meu destino. Entre os meus clientes existia um homem chamado José Bastião da Silveira que a mais de um ano me visitava e pagava mais que era necessário. Ele um dia declarou o seu amor por mim e mostrou o desejo de deixar a sua mulher por mim e viajarmos juntos para a cidade Juazeinho. Mas eu não queria aquilo, ser feliz com a infelicidade alheia, eu não queria mesmo que aquela situação fosse desejada por todas as quengas que ali moravam. Ele insistia e sempre trazia um dinheirinho para mim como se já tivesse compromisso comigo. Era muito gentil e conhecia minha história desde que eu era gente, ou seja, moça. Para a sociedade da época parecia que eu tinha perdido a dignidade e a vida junto com o meu “cabaço”. Pedi a Bastião que conseguisse um trabalho para mim e ele se demonstrou disposto a isto. Em poucas semanas ele chega com um endereço para que eu trabalhe em casa de família. Fui até a referida casa próximo ao açude velho, lugar dos ricos da época. Era uma casa muito bonita e a família muito rica










Riacho das quengas – Joilson Assis 101


Por nome Queiroz. Era uma casa muito grande e tinha muitos objetos caros.
- Verônica é o seu nome não é?
- Sim senhora.
- Seu bastião enviou a senhora dizendo que o seu trabalho era de lavadeira do açude de Bodocongó. Certo?
- Sim senhora.
- Queremos que a senhora durma no serviço e limpe a casa, lave a roupa e faça comida junto com Benta minha empregada antiga. Vamos pagar a senhora 1 conto de reis por mês. A senhora poderá visitar sua família uma vez por mês e vossa mercês terá um quarto aqui nos fundos com banheiro individualizado. Ta certo?
- Sim senhora.
Que mulher firme ela parecia uma rainha com todo o império. Trouxe para casa dela as poucas roupas que tinha e dei as demais que não eram necessárias naquele novo ambiente. Aleluia, eu tinha encontrado o céu que há tanto tempo procurava. Eu já tinha quase dez contos de reis guardados, e era apenas questão de tempo para aumentar mais esta quantia












Riacho das quengas – Joilson Assis 102


E comprar a minha casa tão sonhadora. Finalmente tinha surgido grande chance da minha saída da casa das quengas e ser alguém da sociedade dos vivos.






















Riacho das quengas – Joilson Assis 103
Capítulo VI

Comecei a trabalhar na casa da família Diniz e a alegria não saia da minha face. Era uma casa linda, rica e era muito cheirosa. As pessoas daquela casa me tratavam muito bem, sempre pedindo por favor etc. Ah, eu era uma dama da sociedade dos vivos mesmo sendo uma simples empregada doméstica. Agora era apenas me educar e quem sabe não surgia um vigilante, um jardineiro para casar comigo. Graças a Deus e a Bastião eu tinha aquele lindo emprego. Ele me visitava de vez em quando e me trazia dinheiro e flores escondidas era um velhinho verdadeiramente simpático.
- Verônica, você está bem?
- Sim seu Bastião, estou muito bem graças ao senhor.
- Minha filha eu quero que você seja muito feliz e compre a sua casa e se um dia quiser ficar comigo para sempre basta chamar-me. Ta!
Será que aquele velho estava realmente apaixonado por mim? Ele tinha realmente me ajudado e o meu trabalho era um orgulho para mim. Eu era uma emprega doméstica com orgulho! Era uma grande realização para mim sair daquele ambiente aonde fui colocada. Passei vários meses em pleno sossego,












Riacho das quengas – Joilson Assis 104


Ajuntando meu dinheiro, mas infelizmente depois de ganhar a confiança de toda a casa e participar de suas festas e de sua mesa seu Diniz e seu filho passaram a demonstrar certa simpatia por mim. Além dos olhares os dois faziam de tudo para ficarem a sós comigo e isto acontecia todos os domingos pela manhã e a noite quando dona Diniz ia para a igreja com a sua serviçal fiel Benta. Os dois homens da casa de revezavam sem saber um do outro, em me seduzir. Eu não queria confusão, pois estava em plena realização, mas os dois insistiam então se juntavam a fome com a vontade de comer. Há meses eu estava distante de homens e bastava um leve toque para que eu me derretesse em desejos ardentes. Era uma tentação constante, mas eu estava disposta a resistir com todas as minhas forças. Todos ser que vive sobre a terra é contraditório e não existe nenhum ser que não se contradiga e às vezes o que está entre as nossas pernas domina o que esta sobre o pescoço, é uma verdadeira rebelião física. Beijos e amassos eu não consegui evitar e as mãos dos dois sempre amassavam na menor chance que tivessem. O pai e o filho os dois sem saber um do outro estavam tendo a mesma tara por mim, um desejo terrível por meu corpo. Eu não queria desagrada-los












Riacho das quengas – Joilson Assis 105


Mas eu não queria desagradar a patroa que tanto me considerava. Mas quem anda sempre na beira caba caindo no fundo! E foi o que exatamente aconteceu.
Em uma bela manhã de domingo eu cuidava da arrumação do quarto do casal quando seu Diniz entrou pela porta e disse que queria tomar banho.
- Vou tomar banho Verônica.
- Vou sair.
- Não, fique ai vou precisar de você.
Ele tomou o seu banho e saiu de toalha, desnudou-se em minha frente e mandou enxugar suas costas. Agarramos-nos como em uma briga e em prazeres nos afogamos naquela cama de cheiro maravilhoso e lençóis macios que pareciam me absolver de tão macios, de uma cor extremamente branca. Foi nesta cama que devoramos como dois famintos de amo. Parecia que vários pedaços iriam ser arrancados dos dois e o movimento de nossos corpos eram tão quentes que parecia que iria sair fumaça. Era uma loucura sobre aquela cama que tão limpinha foi manchada aos poucos com o nosso amor que respingava paixão por todos os lados. Aquele homem estava sedento e várias vezes inicia-










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Vamos aquela maratona do prazer o que nos deixou exaustos, quase em desmaios. Eu não queria aquela situação, mas ela veio com muita força e eu não consegui resistir.
Esta mesma situação aconteceu com o filho dele que insistiu muito para me possuir e em situação semelhante me entreguei ao prazer com ele também. Novamente eu estava sendo uma amante e o sexo que era tão bom me fazia sofrer e se colocava no meu caminho como uma pedra e eu sempre tropeçava nela. Mas como dizer não ao meu próprio patrão? E ao seu filho o que eu diria? Estarei eu sendo novamente quenga dos dois? Eu estava agora morando ao lado do Xíque açude velho
Aonde moravam os ricos da cidade de Campina Grande, mas eu não conseguia deixar de ser de homens que não eram meus. Dona Diniz com toda aquela autoridade de patroa sempre facilitava a minha estadia naquela casa a sós com seus dois homens, marido e filho, para minha surpresa os meses se passaram e ninguém percebeu a grande atividade sexual existente na ausência dela com seu esposo e filho. Nem mesmo os dois tomaram conhecimento do que o outro fazia. O filho de do-












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Na Diniz, Renato Lima Diniz era noivo de uma moça donzela da família Gaudêncio e era casamento certo. Era mais uma daquelas uniões que projetavam os dois para o futuro, mas enquanto a sua donzela permanecia pura aguardando o seu casamento, eu servia de amante para ele que em meus braços adormecia. As vezes eu tinha a impressão que Dona Diniz sabia do ocorrido no oculto dos lençóis, mas nada dizia, como se quisesse dar aos seus homens a oportunidade de estar comigo e desfrutarem uma nova mulher. Mas eu nunca tive certeza disto, mas sempre desconfiei, desconfiei mesmo. Era muito estranho principalmente quando ela viajava para a capital e passava lá alguns dias deixando os seus homens famintos de prazer justamente comigo eu era “comida” fácil para eles. Ela sempre levava Benta a sua serviçal de muitos anos e nisto os dois estavam nos meus braços por dois, três e até quatro dias de grande atividade. Era uma loucura!
As vezes os pobres são vítimas de suas próprias ignorâncias, pois expõem suas vísceras por qualquer motivo em nome de sua moral, de Deus ou de qualquer outra coisa semelhante. Já os riscos que eu convivi guardavam seus defeitos para resol-













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Verem entre paredes. Com palavras baixas quase ao pé dos ouvidos resolviam suas questões, mas os pobres “berravam” nas ruas o que aconteciam em suas casas. A moça que se “perdesse” naquele tempo entre os pobres era ridicularizada e uma grande parte delas acabava nas casas das quengas, mas entre os ricos este fato era ocultado até pelo noivo que percebia que sua esposa não era virgem. Em raros casos as moças xíques acabavam em um convento, santa e pura, mas suas vergonhas não eram expostas a todos. Moral sem misericórdia é pura hipocrisia e eu estava acabando de perceber isto. Meu pai não era um homem de moral, pois tinha várias quengas, batia na minha mãe e quis demonstrar moral em cima de meu erro isto impiedosamente me destinando ao submundo da sociedade. Depois que eu virei quenga ninguém da minha família tinha me visitado, nem os meus irmãos e irmãs que já tinham casado e organizado suas vidas. Para muitos de meus familiares eu tinha uma doença contagiosa e nem de longe desejavam me ver, talvez para eu não ir a casa deles. Eu tinha me tornado um LIXO DA SOCIEDADE DOS VIVOS E PARTICIPAVA DA SOCIEDADE DOS MORTOS. Mas graças












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A Deus ninguém da sociedade dos vivos tinha me conhecido naquela mansão dos Diniz. Nos meus horários vagos eu treinava a minha escrita e começava a escrever as minhas principais histórias. Esquecendo alguns detalhes eu estava me sentindo uma mulher da sociedade e até na mesa as vezes eu almoçava com a família que me acolhia. É claro que alguns pés debaixo da mesa me “cutucavam”, mas isto era apenas detalhe, apenas detalhe! Eu ajuntava dinheiro e já estava perto de conseguir o meu propósito de comprar a minha casa.
Eu gostava mesmo das festas com toda aquela comida de rico. Eu comia tanto que ficava triste e sem coragem. Era bom demais! Aquela família realmente constituída de pessoas tão legais que passei a pensar que aqueles eram meus verdadeiros parentes. Nesta caminhada feliz passei quase quatro anos e estava convencida que aqueles membros nobres daquela família me amavam, queria-me muito bem. O que me lembro de engraçado que dona Diniz e seus filhos até Benta a serviçal fiel pegaram uma coceira danada, eles se coçavam sem parar e disfarçavam quando as visitas chegavam, disfarce este que as vezes era













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Muito engraçado Ah, como era bom participar daquela família feliz. Bom mesmo era no natal, ganhávamos presentes e sempre havia baile com a minha música preferida! Escadaria. Bastião nunca deixou faltar meu presente no final de ano e escondido eu levava presentes para as minhas amigas de antiga profissão. Eu gostava muito de levar presente para Sara a minha grande amiga, dona Yaýa e Bianca que era uma prostituta das antigas que velha foi esquecida pelos clientes. Os homens não a procuravam mais e doente, faminta ela era sustentada pelos favores das quengas em atividade. Dava muita “pena” daquela mulher que era tão disputada pelos homens que chegavam até a brigarem, agora mendigava comida e transava até por um cigarro e um copo de cachaça. Na festa de final de ano na casa da família Diniz eu estava vibrante e até comprei um vestido novo e um rádio ABC Canarinho de seis faixas, pegava até os “estrangeiros” falando. Na festa veio gente de toda alta sociedade de Campina Grande, na festa tinha até barão do Algodão. Enquanto eu servia ao som da minha música preferida um grupo de DAMAS DA SOCIEDADE olhavam para mim como se comentassem alguma coisa. Como fui tola, pois pensei que elas estavam achando o meu vestido novo bonito, mas não era.
- Dona Diniz a senhora sabe quem é aquela ali?
- É a minha serviçal Verônica.
- Dona Diniz, aquela mulher é a pior quenga do açude de bodocongó. É rapariga brava e violenta e todos já conhecem a sua fama.







Riacho das quengas – Joilson Assis 111


- É?
- Sim, como a senhora permite uma mulher imunda daquela entrar em sua casa? Todas aqui já sabem quem é ela.
- Eu não como os doces servidos por ela.
- Eu também não.
- Calma meninas, ela deve ter deixado a vida há muito tempo.
- Menina? olha, aonde foi casa sempre será taipeira. (escombros)
- Eu não venho aqui com esta imunda. Não mesmo! Viu?
Na festa eu pensava que estava arrasando com o meu vestido novo, mas era apenas uma quenga no meio da sociedade dos vivos. No dia seguinte fui chamada por Dona Diniz que gentilmente conversou comigo.
- Verônica me fale a verdade, você fazia vida livre?
- Ah, o que? Quem foi que disse a senhora?
- Minhas amigas me contaram e houve um grande comentário ontem à noite na festa, o comentário foi geral.
- Que vergonha dona Diniz.
- Você foi quenga Verônica?
- Sim senhora, desde meus quinze anos quando eu me perdi.
- Então Bastião me enganou. Você realmente é uma mulher de vida livre
- Fui, não sou mais graças a Deus e a Senhora.
- Eu sei Verônica, mas o GRANDE comentário das minhas amigas me obriga a demiti-la.
- Dona Diniz, por amor de Deus não faça isto, eu não tenho pra onde ir; por favor, me deixe aqui.
- Infelizmente Verônica eu não posso deixar que falem mal de minha família por sua causa. Você, você infelizmente está despedida!










Riacho das quengas – Joilson Assis 112






Como doeram aquelas palavras, pareciam facadas em meu peito desferidas impiedosamente. Parecia mais um daqueles pesadelos e eu só esperava acordar. Corri para o meu quarto de empregada que era cheiroso e confortável e chorei, gemi e as lagrimas escorriam de meu rosto como água na rua em tempo de chuva. Chorei muito mesmo até soluçar sem parar. Benta a serviçal de estimação veio me consolar. Tento muito, mas não conseguiu para o sangramento que estava em minha alma. Ela me contou o que foi para mim de grande surpresa, ela relatou que também tinha sido prostituta no antigo lugar chamado barrocas, hoje feira central e que dona Diniz aceitou ela mesmo sabendo que ela era uma ex-prostituta e nunca passou isto em rosto. O problema era a sociedade constituída por suas amigas ricas que tinham espalhado para todo o assunto. A minha presença naquela casa atrairia comentários inúmeros sobre a sua família isto foi o motivo dela não me querer mais. Às vezes tentamos agradas mais os homens do que a Deus e fazemos mais coisas por causa do homem do que por causa de Deus. Era o fim, eu teria que dar adeus aquela família adorada e aquela casa tão confortável e cheirosa para voltar para aqueles becos de casa de taipas com cheiro de mofo e fumaça.


Assim que a dona diz me despediu chorei muito no quarto da empregada, peguei vagarosamente as minhas malas que ganhei da senhorinha e partí, parti do mundo do vivo de volta para o mundo dos mortos . triste e sem forças caminhava as margens do açude velho que alimentava toda cidade caminhando ao lado do rio das piabas, me ajoelhei e fiz questão de beber daquela água doce e límpida como despedida. Adeus açude velho Adeus! caminhei pela feira das barrocas e subi pelo alto da bela vista. Era são joão e a noite de são joão dia 23 de junho estava começando. em toda casa tinha festa fogueira bebidas e muitas risadas. namorados a luz da fogueira pessoas assando milhos queijo no fogo meninos correndo pra lá e pra cá velhos tocando sofona, são joão é a época mais LINDA DO NORDESTE. e eu em lagrimas via tudo isto! era uma festa maravilhosa e em toda casa havia festa de são joão, eu queria tanto participar do mundo dos vivos ter a minha casa meu marido meus filhos pertinho de mim fazer uma fogueira para o senhor sao joão bem bonita e ate soltar bombinha. Esta me sentindo um lixo! Sera que o homem que amei tavares ainda se lembra de mim e meu pai sente saudade deu? eu não queria ser uma quenga e vou fazer qualquer coisas para sair desta realidade.
como o são joão e lindo e o nordeste se enche de felicidade fartura comida bebida família forro quadrilhas e gargalhas , ai,ai , como isto estava tão longe de mim mesmo eu sentindo nas ruas a temperatura das lindas fogueiras.
do alto do morro da bela vista via a cidade e o açude de bodocongo e enquanto eu descia minhas lagrimas atrapalhavam minha visão mas ninguém percebia será que eu era invisível?
chegando de volta ao açude dos amores falei com ele ; sera que um dia alguém saberá a minha história ? águas que lavam o nosso corpo por dentro e por fora e tem memoria de tudo por já passou e foi alguém vivo nesta terra e que tem memorias eternas será que um dia alguém saberá que eu existí? as águas são vivas como uma pessoa e guardam história e mistério guarda a minha por favor!
lavei meu rosto nas águas doa açude de bodocongo e fiquei olhando para aquelas e vi o meu rosto nelas parecia outra verônica e piscava os olhos diferentes dos meus como uma outra eu olhando pra mim . não sabia se tinha medo ou não, foi de arrepiar.
lutarei para ter minha casa e farei uma fogueira enorme e que sabe ate uma quadrilha de são joão.






Como eu sofri e só vim acreditar na triste realidade no dia da partida. Voltei à casa de dona Yaýa que me recebeu como uma filha. A partida, o adeus reúne em uma só dose todas as dores existentes e possíveis na alma. Novamente passei dias chorando a minha decadência ao lado do meu rádio ABC Ca-















Riacho das quengas – Joilson Assis 113


Narinho e o cachorro que trouxe da casa Diniz que eu chamei de Perf. Como chorei, gemi, gritei, mas parece que ninguém me ouvia. Parecia que eu era uma morta viva, ninguém se importava comigo, como um objeto descartável e já usado sendo inútil para a sociedade dos vivos.
Depois de chorar muito e gastar toda a reserva de lagrimas decidi em um ato desesperado ir até a casa de Dona Maria da Silva, minha mãe que há tanto tempo não a via mesmo morando na mesma cidade em bairros visinhos. Fui até ela com uma sementinha de esperança meia mucha, mas ainda insistente em permanecer em meu peito. No caminho veio à alegria de ver de longe a minha casa, era o meu lar que nasci e ainda permanecia em meu coração.
Meninas da rua – Ei olha Ana Carolina, há, há ei tudo bem aonde tu tava...
Mais vizinhas – Meninas entrem agora, entre vamos...
Aquelas vizinhas que me conheciam desde pequena recolhem suas filhas para dentro de casa e fecham as portas em um ato terrível de repúdio. Elas queriam impedir o contato de suas filhas e filhos comigo, afinal eu era uma quenga. Todas as casas se fecharam rapidamente como se existisse um terror me acompanhando. Nem uma palavras, um bom dia, me senti um fantasma vivo daqueles bem feios. Olhei para aquelas casas fechadas e aqueles olhos assustados olhando pelas brechas das portas e me senti um nada. Me dirigi a casa de minha mãe














Riacho das quengas – Joilson Assis 113 A


E chamei como um grito desesperado de ver alguém que me amasse, afinal ela tinha sido contra a entrega de meu pai.
Verônica – Mãe, mão mãe!
- Dona Maria – Verônica? O que você ta fazendo aqui danada?
Verônica – Benção mãe? Eu pensei que a senhora iria me chamar de Ana Carolina.
Dona Maria – Ah, sim. O que você quer Ana Carolina? Por que você veio aqui, você “num” sabe “que” seu pai não quer você aqui?
Verônica – Eu “tava” com saudades mãe.
Neste momento eu chorei como uma criança querendo colo. Será que meu pecado era imperdoável? Dona Maria a lavadeira se compadeceu de minhas lágrimas e abriu a parte de baixo da porta me deixando entrar e eu entrei debaixo do teto que havia nascido sentido o cheiro da comida que eu tanto gostava.
Maria – Sente aqui neste tamburete (bando de madeira). Minha filha você tem que ir embora logo antes de seus irmãos chegarem e se o seu pai souber, eu vou apanhar com certeza. Sim diga o que o que você veio dizer!
Verônica – Eu quero dizer que amo a senhora. Eu não agüento mais esta vida minha mãe.
Dona Maria –Ah, você tem que aceitar seu destino minha “Fia”
Verônica – Mãe, me tire daquele inferno, daquele campo de concentração. Mãe me salve!














Riacho das quengas – Joilson Assis 113 B


Dona Maria – Ah, meu Deus, eu não posso fazer nada, suas tias não querem saber da idéia de ter uma sobrinha quenga, não te aceitariam na casa delas.
Verônica – Eu limpo mato, cuido de gado, faço qualquer coisa.
Dona Maria – Minha “fia” aceite seu destino.
Verônica – Destino, não é o meu destino ser uma mercadoria barata, eu sou uma pessoa, eu sou gente. Mãe eu existo, eu sou Ana; sua filha!
Dona Maria a lavadeira amada olhava para mim com lágrimas nos olhos como aquela pessoa que olha o seu boi de estimação ir para o machado no matadouro. Em um breve momento ficamos sem dizer nada, só as nossas lágrimas falavam.
Dona Maria – Ta na hora de ir minha “fia”, se não o seu pai...
Verônica – Meu pai, aquele raparigueiro que tem várias quengas ele é um...
Dona Maria – Não fale mal dele pra você não ser amaldiçoada viu!
Verônica – Amaldiçoada, quer maldição maior que esta...
Dona Maria – Tome esse lanchinho, esta merendinha e vá embora.
Verônica – Me der um copo d’água.
Depois de beber aquele copo d’água sai da casa e pedi benção daquele que me gerou. Esta minha partida foi vagarosa e eu peguei uma pedra do terreiro bem varrido de minha mãe para guardar de lembrança. Recebi a sua benção e sai vagarosamente sem querer perder nem o cheiro daquele lugar que tanto amei.












Riacho das quengas – Joilson Assis 113 C








Como eu queria ser aquele cachorrinho deitado naquele terreiro cheio de flores e pedrinhas arrodeiando elas. Como eu queria ser aquele gato sarnente deitado em frente a porta da vizinha, mas talvez eu fosse pior que todos aqueles animais e não valesse mais cada do que o preço daqueles dois juntos – Ah, como eu desmontava a cada passo que dava; será que o meu valor estava concentrado apenas na minha vagina? Quem era eu no mundo, um ser desprezível? Andei e sai do meio daqueles terreiros, mas ainda em meio ao mato fiquei olhando o lugar de meu coração. As vizinhas saíram das suas casas onde se escondiam de uma fera raivosa que era o seu próprio preconceito, se escondiam de mim. Os meninos e meninas saíram a brincar e aquelas mulheres conversavam uma com as outras enquanto as minhas lagrimas cariam frias como a morte. Mas em suas mãos o tamburete e o copo que bebi água e joga os dois em um monturo existente próximo a sua casa. Ah, meu Deus, como aquilo me doeu, mas a dor tem um limite, depois de uma intensidade ficamos dormentes a realidade como zumbis que andam sem vida. Engoli a minha angustia e voltei à prisão de minha alma para morrer a morte dos culpados. Cheguei no cabaré e como uma morta viva me dirigi ao canto que achavam que era meu, mas algo me dizia e até insistia que eu fugisse daquela realidade.
















Riacho das quengas – Joilson Assis 114
Capitulo V11



De volta a sociedade dos mortos as lágrimas se tornaram em raiva, revolta contra tudo e todos. Como aquelas “bruacas” xíques eram mais importantes do que eu? Muitas delas não eram tão fieis assim aos princípios morais e eu sabia também de seus podres e as minhas amigas de trabalho sabiam mais ainda. A raiva me cegou e eu fiz cartas para os maridos delas contando as aventuras de suas santas mulheres. As cartas que distribui diziam em detalhes as aventuras de suas mulheres, mas aparentemente nada aconteceu. Como os ricos costumam resolver suas causas silenciosamente acredito que o assunto foi tratado entre paredes. Dona Diniz ainda tinha a minha admiração e respeito, mas o pior estava dentro de meu útero, um filho de seu marido ou filho. Era mais uma vida que estava para surgir no mundo que para alguns é gentil e para outros tremendamente cruel.
Os dias passam rápidos e as nossas forças se vão como água na seca. Bianca ainda continuava entre as quengas e bebia muito para afogar a idéia que tinha ficado velha e só, pobre e sem horizontes. Era uma tristeza ambulante! Um certo dia, grávida fui acordada por Sara.
- Verônica venha ver uma coisa, venha!
- O que é Sara?


















Riacho das quengas – Joilson Assis 115


Era o corpo de Bianca as margens do açude que ela viu ser construído pelo prefeito Cristiano Laurinthz, ao lado do riacho que traz o nome de um guerreiro: Bodocongó. Ninguém sabe por que ela morreu. Fizemos uma cova e enterramos a velha e sofrida quenga. Aquela que deu tanto alivio a vários homens não tinha nem mesmo onde cair morta. Ela tinha vindo da cidade de Pedra bonita, Itaporanga, ainda jovem e tudo que aprendeu a fazer foi ser mulher da vida. Os filhos que teve deu para ricos criarem, deixou nas portas o que saiu de dentro de seu útero e nem mesmo a sua família se importava com ela. Vendo aquele corpo caído junto ao açude de seus amores me assustei com a realidade final da maioria das quengas. Os homens passavam, olhavam e iam embora sem prestar nenhuma atenção.
- Quem é?
- É aquela quenga bêbada.
- Há ta vendo.
Bianca parecia que não tinha nome, era tratada como a quenga velha, a quenga bêbada etc. Será que ela não tinha sonhos? Será que ela não era gente? A realidade de Bianca me assustou tremendamente e repentinamente uma idéia sombria de meu destino se apresentou em minha frente. Eu não podia acreditar que, eu podia um dia adiante, estar como o corpo da velha e querida Bianca que nem mesmo sabíamos o sobrenome ou se este nome Bianca era o nome verdadeiro ou de guerra, um pseudônimo. Foi














Riacho das quengas – Joilson Assis 116


Triste a história final da ex-famosa Bianca, como tantas que ficaram velhas e morreram desprezadas por tudo e por todos. Não era de interesse de ninguém recuperar quengas, até o governo fazia vista grossa a nossa tão utilizada existência. Era realmente triste o final de carreira de uma quenga principalmente no Nordeste daquela época.
Passei a minha gravidez com as demais nos barracos de taipas e seis meses depois do nascimento de Dalva nome de uma estrela, coloquei na porta da família Diniz para ser criada. Não gosto nem de me lembrar deste dia, mas quinzenalmente eu de longe a visitava. Olhava para a minha linda garotinha brincando com bonecas caras nos jardins da casa. As vezes benta me via e dava a entender que ela sabia que Dalva era minha com algum homem daquela família. Mas ela poderia fazer o que? Era o sistema. A sociedade parecia condenar as quengas eternamente ao mundo dos mortos vivos e não permitia em nome de sua moral que estas pobres quengas deixem o que por falta de sorte, um dia abraçaram. Uma vez quenga jamais gente, era o que a sociedade queria.
Sara foi embora com velho vinte anos mais velho do que ela que a deu nome e um lar. Sara conseguiu o que era o sonho de toda quenga. Algumas não diziam mais isto, pois não tinham mais esperança para isto, mas eu sabia que necessitava sair daquela vida. Bastião continuava me chamando para morar com ele, mas eu não queria de modo algum. Mesmo com a recusa














Riacho das quengas – Joilson Assis 117


Ele continuava o mesmo cavaleiro de sempre. Às vezes me trazia flores, às vezes frutas frescas, peixes e até feira ele fazia e trazia para mim. Era realmente um homem muito bom. Já que eu não poderia ficar com Bastião cuidei de imitar Sara fazendo com que um homem Manoel da Silva resolvesse me assumir e me levar para casa. Ele me aceitou e me levou para o rancho dele que ficava próximo do sitio louzeiro. Ele morava em uma vila de quartos fedida próximo a mata do louzeiro. A muito tempo eu sabia de alguns problemas que ele tinha como beber muito e não ser totalmente viril, faltava-lhe constantemente as forças sexuais. O que eu não sabia estava próximo a descobrir era o fato dele ser muito violento e colocar a culpa da mulher de suas “brochadas”. Foi exatamente isto que aconteceu! Ele bebia demais e na hora do sexo falava o que trazia sobre ele uma enorme irá que era descontada em mim. Eu trabalhava para este homem como uma mula, lavava, passava as roupas, a casa e a noite acabava apanhando sobre a acusação de que não exercia bem o seu papel.
- sua quenga eu não me excito por sua causa, você é uma rapariga e eu não devia ter aceitado você...
Era tantas palavras fortes acompanhadas de palavrões que pouco a pouco eu me convencia que o Cabaré era melhor que aquele lugar. Eu precisava encontrar uma saída, mas parecia que não havia outra forma para que um dia eu fosse uma dama da sociedade dos vivos. A ingratidão tira a feição e aquele homem era um verdadeiro cavalo e cheirava como tal. Por amor a mim












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Mesmo eu tinha que suportar aquele porco, “fedorento”. Eu tinha dinheiro e o guardava bem guardado. Mas aquele bêbado roubou o meu dinheiro para jogar nos cassinos e no cabaré. Ele consumiu em poucas noites a economia de uma vida inteira e destruiu os meus sonhos de ter um teto só meu. Além disto, me batia todo dia e por qualquer coisa. Quem habita entre feras sente inevitável vontade de ser fera também e às vezes os que tentam, superam os que eram a muitos anos. Toda e qualquer raiva, ele de sua boca anunciava logo uma lista de palavrões a respeito de minha moral. Moral tem quem anda certo e aquele homem era um imoral, sem critério ou limites, era um verdadeiro animal! Como eu desejava deixar de ser uma quenga e ser uma mulher da sociedade, mas mesmo agüentando a ignorância daquele animal sobre duas pernas. Sara deu muita sorte e seu esposo a trata como uma princesa e de tudo ela tem. Para a cidade que ela foi ninguém sabe de seu passado, realmente ela se salvo, salvou-se do terrível destino das quengas. Eu tentei de tudo para mudar o coração do meu homem, mas todas as tentativas foram em vão. Que tristeza quando a gente encontra com a nossa própria incompetência! A tristeza me acompanhava e passei a pensar que a vida realmente tinha me rejeitado.
Na casa de Manoel sonhei um dia um sonho muito curioso. Sonhei andando em um jardim muito grande que tinha vários














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Canteiros vazios esperando sementes. Era um ambiente estranho, mas bonito. Comecei a andar entre os canteiros e de uma bolsa que apareceu em meu lado comecei a tirar sementes e jogá-las sobre os canteiros. Muitas sementes eu jogava e cada vez que eu fazia isto me alegrava com o fato. Rapidamente as folhinhas saiam do chão em uma rápida germinação que me fazia até sorrir de alegria. Repentinamente surgiram duas mulheres caboclas de cabelo bom, mas arrepiados, olhos esbugalhados e unhas vermelhas crescidas dando gargalhadas e por onde elas passaram as plantas por mim semeadas muchavam.
- Há, há, há queridinha, muitos não colhem porque não plantam, outros plantam, mas não colhem por nossa causa. Há, há, há!
- Saia daqui. Quem são vocês para destruírem o meu jardim assim? Quem deu autoridade para isto?
- Ana Carolina Trajano da Silva, nós somos heranças suas vindas de seus pais, há, há. Somos as maldições e viemos de dentro da boca de seu pai e de sua mãe.
- Você são espíritos de mortos?
- Nem todos os espíritos são anjos e nem de pessoas que já morreram. Somos as palavras de seu pai e sua mãe e a nossa função é cumprir os desejos dos dois mesmo que tenham surgido na raiva. Somos infertilidade em sua vida querida Ana e o que você planta nós cuidamos em destruir.
- Saiam da minha vida, do meu jardim, saiam agora!
- Não é assim queridinha, há, há, há, você terá que nos enfrentar se tiver coragem.
Aquelas duas mulheres, ou seres me davam medo e os seus olhos esbugalhados pareciam querer me consumir. Todo o jar-










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Dim que plantei estava mucho como em uma seca terrível e maldita. Empurrei as duas e corri, corri muito até que passei por uma gaiola de ferro com um imenso cadeado na porta e correntes cercando a gaiola. Dentro da mesma existia um velho aparentando setenta anos, com barba longa e branca e uma roupa verde com vários anéis em seus dedos. Tentei rapidamente retirar aquele velhinho de sua prisão, mas não conseguia até que me alcançaram as duas mulheres de olhos esbugalhados e cabelos crespos para cima demonstrando uma chave daquelas antigas.
- Solte ele agora.
- Ana Carolina você sabe o que diz queridinha.
- Como é o seu nome querido senhor?
- Meu nome é destino, seu destino minha filha que estas malditas prenderam.
- Mas por que o senhor veio tão ruim para mim, me fez sofrer tanto senhor destino. Por que o senhor não me dá uma saída para que eu deixe de ser quenga?
- Não sou eu minha filha, são elas! O destino de TODOS OS HOMENS sempre é bom e vem com o melhor planejamento de Deus o todo bondoso. Mas são elas que atrapalham a nossa função e levam as pessoas por maus caminhos, caminhos de sofrimento e dor. Deus não produz destino mau para ninguém Ana Carolina. Não foi deus que te transformou em Verônica, mas estas malditas.
- Me ajude, por favor, mude meus caminhos, por favor.
- Me solte e eu farei florescer o que plantas.
- Solte o destino malditas agora.
- Você terá que nos enfrentar e tomar a chave queridinha.










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Nisto eu passei a enfrentá-las e pulei no meio delas para tomar a chave na “tapa”. Lutei muito com elas e agarrada ao cabelo delas caímos no chão e eu me acordei. Que sonho louco, mas eu nunca me esqueci dele. Foi tão real que a minha memória trazia o mesmo à tona como algo realmente vivido.
Agüentei durante meses surras e palavrões daquele homem que em nada me valorizava. Talvez para ele Peri meu cachorro tivesse mais valor e o passar, lavar, arrumar a casa fosse o único motivo dele me sustentar, dele me manter em sua casa. As maiores surpresas não estão nas situações, mas nas reações que temos a elas, nos surpreendemos com as nossas próprias reações as situações e momentos. Confesso que já estava me acostumando a ser uma coisa e não um ser humano. Em um daqueles dias julgando ser merecidas aquelas tapas fortes na minha cara. Naquele dia além de me bater o monstro bêbado bateu com um pau em Peri quebrando a sua perna. Caída ao chão vi aquela cena que me causou grande irá. Fui até ele, peguei o pau e bati nele com todas as minhas forças, bati, bati nas pernas, na cabeça, nos joelhos enquanto o miserável pedia para parar, mas eu estava descontrolada. Bati com muito gosto e ele caiu sangrando ao chão e mesmo assim eu continuei.
- Seu bêbado miserável você quebrou a perna de Peri, seu miserável tome isto...
- Verônica você é uma rapariga imunda, sua quenga...















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Eu bati muito nele, eu gritava e batia, batia até ele não mais fazer reação alguma. Soltei o pau sujo de sangue e tremendo cai de joelhos no chão.

- Matei Manoel. Meu Deus o que vou fazer?

Peguei Peri e corri ao açude de Bodocongó para a casa de dona Yayá que tinha uma distância de quinze quilômetros. Com o cachorro grunindo em minhas mãos eu corri muito e constantemente eu olhava para trás esperando a polícia me alcançar. Na época o delegado da região era o Antônio Negreiros que era impiedoso e não gostava muito de quenga apesar de ser casado com uma embutida. Corri muito e as minhas pernas tremulas davam câimbras e a dor era muito grande. Suada e exausta cheguei às margens do açude dos amores e quase rendida ao destino trágico de ser uma futura prisioneira tomei o meu último banho no açude e as águas do rio Bodocongó se misturavam com as minhas lágrimas.

- Por que Senhor eu sofro tanto, por quê?
- Será que nasci para sofrer nesta terra? Eu só queria ter um homem só meu, uma casinha e filhos. Só isto Senhor!

Lavei meu corpo manchado por pontas de cigarros e arranhões em delírios sexuais, as manchas das sarnas que tive me sentindo um lixo um resto da humanidade que tenta desesperadamente me esquecer. Cheguei tomada banho em Dona Yayá e contei que tinha matado Manoel a pauladas e a qualquer momento a polícia iria vim me buscar.






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- Verônica você ta doida, você matou Manoel?
- Sim dona Yayá e vou passar os restos dos meus dias na cadeia.
- Calma filha, tudo tem jeito, só não tem jeito a morte.
- Socorro dona Yayá, o que vou fazer?
- Olhe, você vai pela mata de dona Marquinha e procure a fazenda do Major Veneziano. Ele é um homem bom e defende o pobre como se fosse familiar sua. Se você conseguir entrar na fazenda dele ninguém vai poder te prender. Todos dizem que o Major Veneziano é o grande defensor dos pobres da região e até as mais terríveis situações ele resolve. Corra antes que a polícia chegue, vá logo! Deixe Peri aqui comigo.

Então eu corri muito em direção a fazenda do Major Veneziano orando a Deus pra não ser interceptada. Naquela época a polícia ainda utilizava cavalos daqueles bem bonitos e de longe eu via a poeira que eles deixavam nas estradas de barro como era todas na época.

- Meu Deus que o Major Veneziano me ajude, por favor!
- Por que eu fiz aquilo?

Eu acho que nunca corri tanto na vida e as árvores da mata Dona América Correia e Major Juvino me escondiam da vista daqueles soldados. Talvez se fosse um rico e poderoso eles não viessem tão rápido assim. Cheguei depois de muito correr na fazenda do Major Veneziano, mas para minha infelicidade eles me acompanharam e se aproximaram rapidamente.

- Lá vai ela, peguem ela!

Desesperada corri ai lado da cerca até que resolvi saltar para dentro da fazenda do Major Veneziano em uma atitude de-






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sespero. Corri para o pasto de seu gado e os soldados saltaram atrás de mim e em uma corrida desesperada me pegaram.

- Me soltem, me soltem.
- Pega a quenga, segura.

Eles me seguraram com muita força e me conduziram em direção à cerca e eu chorava desesperadamente me debatendo. De longe vi cinco cavaleiros vindo rapidamente em nossa direção.

- O que é que estar acontecendo aqui cábras?
- Major Veneziano agente veio prender esta quenga aqui.
- Fale direito soldado, ela tem nome. Você está nas minhas terras viu. Filha o que aconteceu?
- Major socorro, por favor me “acuda”. Não me deixe levar por favor!
- Soltem ela ouviu cábras.
- Major temos ordem para leva-la agora.
- Você está em minhas terras, você faz o que eu quero viu: Solte ela agora.

Enquanto eles conversavam o delegado entrou pela cerca e tentou argumentar com o Major Veneziano.

- Major Veneziano bom dia. Agente veio prender esta mulher por tentativa de assassinato e ela invadiu suas terras. Mas não iremos incomoda-los mais viu. Tragam ela!
- Espere um pouco delegado, ta vendo aquelas cercas ali. Aqui é meu e quem manda aqui sou eu. Deixe a menina e vá embora agora.
- Mas coronel...
- Saiam agora, quem tá mandando sou eu. Cale a boca e saia sem










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Reclamar

Aqueles homens fartados saíram acompanhados dos jagunços do Coronel e eu chorava junto a ele no almoço. Tomei banho e almocei na cozinha da fazendo por vergonha de me juntar a mesa, mas ele chamou várias vezes. Eu sabia que o Major era uma pessoa boa: o Major Veneziano me acolheu durante duas semanas até que o processo não oferecesse risco de prisão. Manoel não morreu como eu pensava como um vaso ruim não quebrou mesmo com tantas pauladas. A fama de bom e defensor dos pobres do Major Veneziano cresceu e atravessou os tempos, bastava alguém segurar na cerca da fazenda do Major para que a polícia não prendesse. Realmente o Major Veneziano foi um fenômeno em defesa dos pobres e das classes menos favorecidas.

Voltei à casa de Dona Yayá e junto ao seu Cão Peri seguia o meu destino. Eu não me acostumava ao destino de quenga e ficava dias e noites planejando deixar aquela vida. Pedi auxílio a Santa Igreja mas não existia projeto para recuperação de quengas na mesma. Até ser freira eu pensei, mas não deu certo. Passei a vender raízes na feira grande, mas o dinheiro mal dava para comer e eu voltava à vida novamente. Houve uma seca muito grande naqueles anos e a fome foi grande entre os pobres e tudo se tornou caro demais. Bastião continuava na sua tentativa incansável de me conquistar, mas eu não queria atra-















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palhar a vida de sua mulher nem de seus filhos mesmo que sua esposa não acreditasse nisto. As vezes ficava muito triste e em outras vezes me alegrava pois o melhor da vida é viver. Bastião fez uma música muito bonita em minha homenagem e costumava contar quando estava comigo.

- Verônica me sinto tão só
- Quando não estás junto a mim
- Verônica eu quero dizer
- Que te amo tanto, que não posso mais
- Que te quero tanto amor.

- Quero os teus olhos olhar
- Quero tua boca beijar.

Ele cantava todas as vezes que estávamos juntos e dizia que um dia iria encontrar um cantor com uma voz muito bonita para cantar para o Brasil toda esta música. Aquele velho era o homem mais amável que já conheci. O seu amor se constrangia e me fazia de certa forma amá-lo também. Eu que só conhecia Campina Grande iria ser cantada em todo Brasil. Quem sabe que um dia conseguiria? Quando ele cantava esta música para mim eu chorava muito como se lamentasse o meu destino e como o meu nome de guerra ficava tão lindo na boca daquele homem que jurava amor eterno por mim e até uma música tinha feito em minha homenagem. Realmente o amor gera a melhor das melodias que acalenta todas as almas.








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Alguns meses eu me dediquei somente a Bastião e para a felicidade dele engravidei mais uma vez.

- Finalmente um filho meu grande amor.
- Bastião eu não quero confusão com sua mulher viu.
- Isto nada haver tem com ela, eu vou ter um filho e vou amá-lo e criá-lo.

Enquanto mais uma vez a minha barriga crescia eu ainda tentava deixar a vida e até os crentes eu busquei para ter uma alternativa de fuga da vida livre que levava. Fui à igreja e eles oraram muitas vezes em minha cabeça e até falaram um idioma estranho sobre ela, mas apesar de ter boa vontade para comigo eu ainda morava nas casas das quengas e me prostituia para sobreviver. Eles oravam, oravam, mas nada fazia para que eu tivesse uma fuga da vida livre.

- Pastor o senhor sabe que eu sou uma quenga e desejo muito sair desta vida para servir a Jesus. Mas não tenho o que fazer nem como sair desta vida. Ajude-me, por favor!
- Você está errada minha filha, você está em pecado contra Deus.
- Pastor me ajude, o senhor não tem um emprego para mim de zeladora ou qualquer coisa?
- Não, eu não tenho. Mas vou orar por você.

Realmente eu era uma pecadora, mas como deixar de ser? O que fazer quem queria me aceitar, em que eu iria trabalhar? A própria sociedade fazia força para esquecer de minha existência. Até os meus pais nunca vieram me visitar desde que me deixaram para ser quenga, uma excluída da sociedade. Mas mesmo sem







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a minha família se preocupar comigo eu fui até eles. Foi necessário procurar, pois meu pai mudou de casa várias vezes mas finalmente eu encontrei. Bati palmes enfrente a casa quando minha mãe saiu e assustou com a minha presença.

- Ana Carolina?
- Sim, mãe; Sua benção.
- Deus te abençoe minha filha.

Eu entrei em sua casa e não tínhamos muitas palavras para falar. Existiam muitas crianças correndo pela casa, eram os netos da minha mãe filhos de meus irmãos e irmãs que ainda moravam dentro de casa.

- Mãe que meninos lindos!
- São de seus irmãos e irmã que moram aqui conosco e outro mora ao lado.
- A senhora vai ser avó novamente, eu estou com sete meses, e acho que vai sair menina.
- Sim, mas que surpresa é esta de você vim aqui me visitar?
- Tive saudade mãe da senhora e do papai.
- Ele continua o mesmo, daquele mesmo jeito, não mudou nada. Falando nisto é melhor você ir embora antes que ele chegue. Qualquer dia eu vou lhe visitar lá em dona Yayá.

A minha mãe não demonstrou nenhuma alegria por ter mais um neto neste mundo e nem mesmo perguntou se eu tinha outro filho e onde estavam. Até as crianças que brincavam em sua casa foram impedidas de se abraçarem como se eu fosse contaminá-las. Meus irmãos e irmãs eram seres vivos mesmo eu uma morta que insistia em viver no meio dos vivos. Até a água foi me servida em um copo velho, talvez para jogá-lo fora depois.









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Eu estava me convencendo que a minha pessoa imunda para uma sociedade imunda que éramos todos. Quando sai da casa da minha mãe sem nem mesmo ela insistir que eu ficasse mais um pouquinho beijei, mas não fui beijada em resposta. Eu saí com a minha alma cambaleante dentro de mim, como se ela estivesse bêbada. Eu me sentia um lixo humano, uma escória dos vivos e inteligente. Talvez junto com o meu cabaço eu tenha perdido toda a dignidade e virtude de uma vida inteira e tenha me tornado algo imprestável neste mundo. Os crentes diziam que se eu me arrepender Deus apagará os meus pecados, esquecerá os mesmos mas o problema não estava em Deus esquecer mas na sociedade que não me perdoaria nunca. O que fazer para sair do mundo dos mortos e vivos e participar da sociedade? O encontro com a minha mãe e o alerta dela para que eu fugisse para não me encontrar com o meu pai me desmontou por dentro e eu desejava morrer. Por que nasci, para se tornar um zumbi ambulante? Os homens desejam a misericórdia de Deus e o perdoam, não exercem a misericórdia que chamam constantemente sobre se. Cheguei às margens do Bodocongó e pingou como se procurasse alguém que não tinha nojo de mim, de meu corpo, do ,eu sentar, da minha roupa, de mim. Naquela noite eu chorei muito e o meu leito se umedeceu de lágrimas.

Durante o dia as quengas costumavam sentar nas cal-



















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çada conversarem à bordar roupas e toalhas que as ricas compravam para embelezarem suas casas xíques. Passou uma velhinha e falou comigo e em meio a tristeza eu disse a ela que eu estava sem esperança pois era apenas uma quenga e ninguém me queria.

- Minha filha, Deus ama a todos. Não diga isto que uma das avós de Cristo era uma prostituta de Canaã e mesmo assim ele entrou na família dele e está a sua presença na Bíblia. Deus não é ignorante como os homens que estão a nossa volta.
- Deus deixou uma ex-prostituta entrar em sua genealogia?
- Sim minha filha, Deus não vê como o homem ver, Ele tem os olhos eternos.

Foi a coisa mais interessante que eu já ouvi. Eu não sou escória para Deus como sou para a sociedade. Esperei com ansiedade a visita do velho Bastião e depois de dormir com ele fiz um pedido.

- Bastião, eu quero que você compre uma coisa pra mim.
- Sim minha fofa, diga o que você quer.
- Eu quero que você compre pra mim uma Bíblia que tenha o velho testamento.
- Uma Bíblia mulher, que idéia foi esta?
- Sim, me compre uma Bíblia urgente.

Ao completar os nove meses Bastião me deu uma Bíblia muito bonita e eu dormia com ela. Tive uma linda garota e coloquei o nome dela de Iris e a dei ao seu pai para que ele a levasse para a casa. Para a minha surpresa a mulher dele aceitou a crinça e a criava com tanto amor que me surpreendeu. A vida












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realmente é cheia de surpresas a cada curvas que passamos. Continuei na minha vida e de vez em quando Bastião trazia Iris para eu ver e a esta filha eu podia abraçar e abençoar para que ela tivesse uma vida bem diferente da minha. Eu não me acostumava com a vida livre das Quengas que levava e tentava de todas as maneiras deixar...





































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Ana Carolina Trajano da Silva, Verônica morreu em dezembro de 1942 com 35 anos de idade. Vítima de uma infecção não diagnosticada. Uns disseram que foi mau de parto recolhido, outros que foi doença venérea, alguns pneumonia e ainda alguns que disseram que foi mau de Quenga. Ela foi enterrada no cemitério do Monte Santo em Campina Grande e todos os custos foram pagos por Bastião.

Dona Yayá anos depois foi para Recife e foi acolhida por uma filha que tinha lá. Em seu lugar ficou Nita que se tornou famosa e morreu com mais de oitenta anos. Do cabaré de dona Yayá surgiu Antonia que também fundou um cabaré famoso no bairro da Palmeira chamado Cabaré da “Veia Otonha” que acolheu centenas de meninas da vida livre.

Judite deixou a vida e ganhou uma casa do prefeito no Bairro do Louzeiro. Continuou simpática, conversadeira mas não levava desaforo pra casa. Por isso mesmo ela continuou famosa entre os policiais no qual batia quando enfurecida.

Ana Carla e Ana Cristina conseguiram casamento e conseguiram se tornarem mulheres da sociedade. Ana Paula morreu de infecção aos vinte e sete anos de idade. Severina conseguiu ajuntar dinheiro e comprar uma casa. Ela conseguiu trabalhar na Ipelsa por toda sua vida, criou seus filhos e se tornou crente da Igreja Assembléia de Deus do Bairro da Prata.

Sara deu muita sorte, casou-se antes de Verônica morrer, ficou viúva e casou com um barão do algodão. Ela tinha até















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um carro. Sara foi a mais bem sucedida das ex-quengas e morou em uma cidade do interior.

Uma grande parte das quengas desejavam apenas um homem para ser seu dono, mas não conseguiram. Morreram jovens vítimas de doenças como cífilis, câncer de útero e febres desconhecidas. Está nestas mortes um grande enigma, pois algumas destas jovens não suportavam vinte anos de vida livre, morriam por diversas doenças venéreas, mas outras, as que escapavam, conseguiam uma longevidade muito grande que chegava próximo aos noventa anos. Este mistério sempre foi motivo de comentário mas acredita-se que a imunidade das mulheres era o fator importante nestes resultados.

Centenas e até milhares de filhos de quengas foram criados pela nobreza e nem mesmo tomaram conhecimento disto. A produção de crianças na época era muito grande devido não ter anti consepcional. Muitos nobres e dominantes são verdadeiramente filhos das putas.

Cabaret – No Frances
Os cabarés (Caburé no Tupy – Ave Noturna) dominaram áreas inteiras nas décadas de 1910 até 1980 aonde ouve uma mudança brusca de visão acerca do sexo. Milhares de Jovens “Perdidas” foram impiedosamente JOGADAS nos cabarés para serem quengas e pagarem o GRANDE ERRO que fizeram as vezes enganadas e as vezes por amos se entregaram. Milhares de sonhos foram perdidos por causa de uma virgindade perdida e as pequeninas sujas e pobres casas das quengas se enchiam de lágrimas e revoltas pais e amantes fujões. As casas das quengas eram ver-














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dadeiros campos de concentrações que dificilmente uma mulher escapava. A moral da sociedade da época formava uma verdadeira cerca elétrica que não deixavam as quengas caírem para a sociedade dos vivos. Sem dinheiro, sem moral, sem assistência técnica e religiosa muitas quengas tombavam com doenças ainda na mocidade e as velhas morriam de beber para esconder seu desgasto de viver.

Muitos prefeitos tiravam das cidades que crescia os barracos das quengas e não proporcionavam para elas nenhuma assistência. Era apenas uma retirada do que se desagradava aos olhos das madames xiques e dominantes.

Bastião amou Verônica por toda sua vida e as músicas que fez em homenagem a ela entregava a cantores de cabarés que decoravam as belíssimas melodias. O Rádio e o Cão Peri foi a única herança que Verônica deixou com Bastião para Iris a filha do amor dos dois. Bastião visitava periodicamente o túmulo de Verônica e segundo os coveiros ele como um louco ele cantava a música chamada Verônica ao lado do túmulo todas as fezes que ia visitar seu grande amor. Sebastião foi encontrado morto ao lado do túmulo de Verônica sua amada como se tivesse morrido de saudade.





















Riacho das quengas – Joilson Assis 135



- Seu Bastião o cemitério vai fechar. Seu Bastião o cemitério vai fechar: “Danado esse homem doido vai atrasar agente.” Seu Bastião ta surdo é?

O coveiro Toinho com seu chapéu de palha e seu cigarro de palha entrou meio “zangado” para falar com Bastião que o cemitério ia fechar e encontra entre os túmulos Bastião caído ao lado da cova de Verônica com o seu violão do lado dele.

- Seu Bastião, seu Bastião... Eita danado o que ta acontecendo... Seu Bastião acorde... Minha Nossa Senhora... Mané corra cá homi, vem cá, seu Bastião ta caído aqui no chão... seu Bastião...
- O que é macho?
- Oia só, Bastião ta caído...
- Eita danado será que ta morto?
- Sei lá Mané acuda aqui logo!
- Segura o homi direito danado... Logo, levanta agora...
- Ele ta morto Mané.
- Ta não foi um passamento vice vamo, vamo homi...
- Bote ele nas minhas costas...
- é mior nos braços, vamo, vamo, vamo...

musica

verônica é a mais linda dos amores
verônica sonhos encantos desamores
o teu olha é desabrocha de muitas flores
um encanto de menina em uma mulher



todos os encantos de menina trazendo grandes sonhos ilusões um jeito um doce e meigo que fascina
é ela que encanta muitos corações uma mulher menina uma menina mulher beleza que domina a multidões

verônica é a mais linda dos amores
verônica sonhos encantos desamores
o teu olha é desabrocha de muitas flores
um encanto de menina em uma mulher

auto Andre Kary


Fim

















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TRIBUTOS AS INJUSTIÇADAS



As milhares de mulheres em todo Brasil principalmente no Nordeste que injustamente foram jogadas como lixo humano nos campos de concentração moral fingida e da hipocrisia das classes dominantes chamadas de cabarés, casas das quengas.

A vocês que até por amor se entregavam aos cafajestes e foram impiedosamente punidas por pais ingratos querendo justificar-se perante a sociedade hipócrita que formávamos. A Vocês que perderam seus sonhos mais íntimos, sua mocidade e que foram usadas como objetos sexuais por homens tão moralistas. A aquelas que a sociedade tentou apagar de suas mentes e vistas, fingiram que vocês não existiram. À aquelas que tiveram os seus corpos manchados por pontas de cigarros e cífilis, surras e morreram abandonadas pela medicina de doenças desconhecidas que eram chamares de mau de quengas.

A todas as mulheres injustiçadas de meus país!

Joilson de Assis da Silva























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Autor de várias obras literárias, Teólogo, Cristão, sensitivo ao ambiente e ao espiritual a maneira de Joilson Assis da Silva escrever é único. A forma dele se expressar nos faz viajar em suas letras esclarecedoras. Joilson Assis tem 35 anos e vinte que trabaçha diretamente com pessoas e nestes contatos a sua maneira analítica faz grandes observações filosóficas e ideológicas.

Simples e do povo Joilson cultiva a boa conversação principalmente com os mais antigos colhendo deles suas histórias e observações. Emocional e Romântico Joilson fazem de suas letras teclas de um piano da onde tira lindas melodias históricas e emocionantes. Como palestrante o autor aprendeu a ver amplamente os assuntos por diversos ângulos, balizá-los e os expor com sutis opiniões. As emoções foram dos seus escritos que ainda não foram que ainda não foram publicados, mas quando isto se fizer o sucesso será inevitável. Conhecedor das histórias e estórias a sensibilidade do autor faz de seus livros uma nave de viagem pelo tempo e pelos estados da alma humana.



Ceza Carneiro Bezerra





















Joilson Assis da Silva
R.: Severino Lopes Barbosa, 258
Bodocongó 11

Campina Grande – Paraíba Brasil

0xx83 8720-5989 / 88924192



RIACHODASQUENGAS









JOILSONDEASSIS
ESCRITORJOILSONDEASSIS
história de Campina grande Paraíba Brasil
hitória dos indios do Brasil